O código de barras, que revolucionou o varejo, está fazendo 40 anos no Brasil. Neste episódio do podcast PDV, gravado durante a APAS Show 2023, conversei com o primeiro presidente da GS1 Brasil, Antonio Galvão, pioneiro na implementação da tecnologia no país, conta essa história.
Antes de adentrar na história do código de barras, é fundamental compreender o contexto econômico do Brasil em 1983. Nessa época, o país enfrentava sérios desafios, com uma inflação astronômica, atingindo quase 60% ao mês. O cenário econômico instável causava dificuldades significativas para os supermercados, especialmente no que diz respeito à remarcação constante de preços. Era evidente que uma solução tecnológica era necessária para enfrentar esses problemas.
Em meio a esse cenário de desafios, o governo federal, liderado pelo presidente Figueiredo, reuniu as 17 maiores empresas de varejo brasileiras, incluindo gigantes como o Grupo Pão de Açúcar, Bom Preço de Recife, Renner, C&A e Mesbla, onde Antonio Galvão trabalhava como gerente de informática. Esse grupo pioneiro em automação teve três principais objetivos:
- Criar um sistema de automação para as operações de vendas no varejo.
- Estabelecer uma legislação fiscal padrão. Era essencial criar um conjunto de regras fiscais comuns para todas as empresas.
- Criar um Código para Leitura: a terceira tarefa era a criação de um código que permitisse a leitura dos produtos. Antonio Galvão viajou para diversos países, como Espanha, França, Inglaterra e Estados Unidos, em busca de tecnologias que pudessem ser adaptadas ao mercado brasileiro.
A chegada do código de barras
A história do código de barras no Brasil está diretamente ligada à busca por uma solução eficaz para a automação no varejo. No início, a Mesbla liderou o processo de automação, e Antonio Galvão desempenhou um papel fundamental nessa jornada. No entanto, a implementação do código de barras enfrentou desafios consideráveis.
Um dos principais desafios foi convencer as indústrias a imprimir os códigos de barras em seus produtos. Um checkout completo, incluindo o PDV e o scanner para ler o código de barras, custava cerca de 10 mil dólares, o que não era uma despesa que os donos de supermercados tinham planejado.
Para superar esse obstáculo, foi necessário obter apoio de empresas que estavam fortemente envolvidas no processo de automação. Isso resultou em um acordo que concedeu um prazo para que as indústrias implementassem o código de barras, desde que um número suficiente de checkouts automatizados fosse adotado.
Pioneiros no uso do código de barras
O Bom Preço foi o primeiro supermercado brasileiro a adotar o código de barras. No setor de lojas de departamento, o pioneiro foi o MAP. Antonio Galvão desempenhou um papel crucial como consultor tanto para o Bom Preço quanto para o MAP, bem como para várias outras empresas em todo o Brasil.
Esse movimento de automação culminou na criação da ABAC (Associação Brasileira de Automação Comercial), que posteriormente evoluiu para a EAN (European Article Numbering), atualmente conhecida como GS1 Brasil, e está vinculada à GS1 Mundial.
Antonio Galvão lembra de sua primeira palestra na Convenção da Abras, que tinha uma audiência de cerca de cinco a seis mil pessoas. No entanto, quando chegou à sala de palestras, encontrou apenas 12 pessoas presentes. Isso refletia o ceticismo inicial em relação à tecnologia do código de barras.
Ao longo do tempo, sua dedicação e trabalho árduo valeram a pena, e a maioria das indústrias e varejistas brasileiros adotaram o código de barras como parte fundamental de suas operações.